Para além da CNH: processos educativos da prática social “aulas de direção veicular” no contexto da educação para o trânsito

Abstract

A pesquisa foi desenvolvida a partir dos fundamentos teóricos da educação como cultura, o que possibilitou os estudos de processos educativos em práticas sociais relacionados à Educação para o trânsito. Para tratar da educação como cultura, recorremos aos trabalhos de Carlos Brandão (2013) e Paulo Freire (2005); para discutir processo educativos em práticas sociais, utilizamos os estudos de Maria Waldenez de Oliveira, et al (2014); Pierre Bourdieu (2018), Guillermo Giuci (2004), Roberto DaMatta (2010) e Eric Hobsbawm (1988) embasaram a abordagem sócio-histórico e cultural que se buscou fazer sobre o trânsito, de modo geral, e do automóvel, em particular. A pesquisa está vinculada à linha de pesquisa Processos Educacionais e seus Fundamentos. Integra o projeto de pesquisa “Educação na diversidade para a cidadania: um estudo de processos educativos e formativos escolares e não escolares”. Tem como objetivo geral identificar os processos educativos que emergem da relação entre instrutores(as) de trânsito e seus(as) respectivos(as) alunos(as) durante a prática social “aulas de direção veicular” no município de Uberaba/MG e analisar seus desdobramentos no contexto da Educação para o trânsito. O objeto de estudo foram aulas de direção veicular, que integram o Processo de Habilitação de Trânsito. A metodologia é de caráter qualitativo (BOGDAN; BIKLEN, 1994), com finalidade descritivo-exploratória, cujos meios para a obtenção de dados foram: aplicação de questionário estruturado (GIL, 2008); pesquisa documental (LÜDKE; ANDRÉ, 1986); e observação direta, com registros em diários de campo (BOGDAN; BIKLEN, 1994). A pesquisa de campo se deu em autoescolas ativas e credenciadas pelo Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (DETRAN/MG), vinculadas a uma rede. O processo de organização, codificação, categorização e análise dos dados seguiu as orientações de Braun & Clarke (2006) em íntimo diálogo com os pressupostos teórico-metodológicos da triangulação descritos por Triviños (1987). A partir da leitura dos dados produzidos, foi possível estabelecer o processo de codificação, que deu origem a três temas centrais: 1) a desumanização; 2) as condicionantes da desumanização nos processos humanos; e 3) a humanização na desumanidade. A partir da revisão temática, chegou-se a dois temas de análise: 1) a desumanização e suas condicionantes nos processos humanos; 2) a humanização na desumanidade. A análise dos temas desnudou uma cadeia de desumanização que permeia não só as aulas de direção veicular e o Processo de Habilitação de Trânsito, mas a Educação para o trânsito como um todo; revelou também que, no seio da desumanização, existem forças de resistência que desencadeiam processos educativos que, além de preservar suas próprias humanidades, concorrem para a restituição de parte da humanidade do outro, desconstruindo, assim, o fatalismo e reafirmando a esperança na força antológica do ser mais.